terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Geraldo Augusto de Carvalho

       
      Geraldo Augusto de Carvalho (20/07/1914-16/05/1988),
 natural de Lavras-MG,
 amante da literatura, guarda-livros por ofício, apaixonado pelo Radioamadorismo, escrevia sob a alcunha de Viriato Vidal.
Filho de Augusto de  Carvalho e Cristina de Carvalho,
 casado com Terezinha Alves de Carvalho, deixou
 7 filhos ( e 17 netos):
    * Sílvia Cristina (Geraldo César, Sérgio Augusto, Cristina e Daniel)
    * Marília (Juliana Érika, Tarses Cristina e Júlio César)
    * Maria José (Michel, Otávio Augusto e Talita Lara)
    * Joel (Renato Sérgio e Janine Cristina)
    * Sérgio
    * Ruth (Luís Fernando, Liliane e Daniele)
    * Fátima (Adriano e Fernanda).



    Dedicatória no livro O DIÁRIO – Contos, Jorge Azevedo- 1939:

        Ao brilhante espírito de Geraldo A. de Carvalho, o
        talentoso Viriato Vidal, esta modesta homenagem
       expressando a amizade e admiração do
                                                Jorge Azevedo
                                                   15.2.39



Homenagem da prima Lídia Fideles Fantazzini (1988):

        AO PRIMO GERALDO AUGUSTO DE CARVALHO
                                               (Em memória)
       
        Extingui-se a chama da vida, porém acenderá mais
    luminosa no Astral Superior, onde você deve estar,
    agora perto de Deus.
        Você foi como um veleiro que sobe enfrentar o mar
    da vida quando deslizava mansamente; soube controlar
    o barco quando o mar era bravio, e em meio as lutas e
    tropeços, com a fé de um bom cristão venceu a luta.
        Cumpriu sua missão, foi bom esposo, pai exemplar,
    amigo  sincero.
        Sua esposa, filhos e amigos choram sua ausência.
        No seu trabalho no rádio você recebia mensagens,
     Tantas quanto enviava ajudando o próximo.
        Com um adeus, envio a você a minha mensagem.
        Que sua alma descanse na paz do Senhor
                                         Lídia F. Fantazzini.

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Revista NIRVANA, Campinas – Nº 42 – Maio de 1938
     CARTA
   Queridinha:
   Tão longe de mim, estás contudo presente em meu pensamento. Sinto-te a meu lado, ouço-te, aspiro a fragrância suave dos teus cabelos louros, o perfume inebriante do teu corpo adolescente. Evoco tua figurinha graciosa, e “écran” da memória se me projeta, em seus contornos todos, o teu perfil ligeiramente esguio, com suas linhas harmoniosas e puras.
   Aliás, desde que a tua imagem real deixou de refletir na retina dos meus órgãos visuais, continuo a ver-te ainda, tão nitidamente como se comigo estivesses. Fenômeno, talvez, do chamado “desdobramento da personalidade”. Não o sei; o caso é que  te tenho junto a mim. Fantasia, talvez, do espírito obcecado pela saudade... Sim! Por estranho que te pareça, sinto saudade de ti!...
...................................................................................................................
   Leio as palavras que, com a tua letrinha nervosa, deixaste como lembrança dos momentos fugidios de felicidade que me deste. Que singular encanto e motivo soubeste dar aquela frase simples! Só mesmo a sinceridade tem essa magia sutilíssima de comunicar tanta vida e calor a uma meia dúzia de termos banais e corriqueiros.
   Poderás deixar de querer-me, e eu a ti: tudo isso é humano, e mesmo razoável: resta-me, porém, uma doce certeza: não mentias ao escrever o teu afeto, como eu não minto ao dizer-te as minhas saudades...
   É por isso que eu não te suplico me sejas sempre fiel, que me queiras eternamente. Não. Apenas e simplesmente, peço-te continues a ser leal, conservando para sempre a deliciosa e ingênua sinceridade que me fez gostar tanto de ti...
                                                                                         Viriato VIDAL

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Entre Rios Jornal – 21/04/1938 (“Sociaes”,pág.6)
     CAPRICHO
   Naquele dia claro ele não pode compreender porque ficava indiferente ao encanto da linda paisagem, tão sua conhecida. A princípio, atribuiu isso a alguma mutação na própria natureza, e procurou determinar qual teria sido. E, no entanto, era a mesma relva fresca e verde, o mesmo o recanto em que, de ordinário, descobria tanto bucolismo; as mesmas eram as árvores e a fonte ciciante. Mas tudo tão triste, tão melancólico!  A vegetação, ao perpassar a brisa, cochichava sentidamente; mudos, os pássaros se ocultavam e a fonte... a fonte, que sabia umas canções vívidas e álacres – corria lenta, suspirando um poema dolorido de saudade...
   Mas a tristeza e a saudade não estavam nas árvores, nem na fonte, nem nos pássaros... Estavam, sim, no amargo de sua alma. E também, a solidão. Por que você, menina voluntariosa e má, mentiu a sua confiante boa fé. Os lábios vermelhos que lhe levaram tanta vez a ilusão do amor, foram rudes para destruir todo um castelo de esperanças, construídos de beijos e promessas. Capricho de moça bonita, como a gente vê no cinema...
   ...Se você soubesse o que ele sofre agora, com certeza teria remorsos...  



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho


Jornal “A COLUNA” – Campo Belo-MG – 02/04/1938 – 1ª p.!
       Viriato Vidal escreveu:
           VIGÍLIA
     Si tu viesses !
     E fico pensando, sonhando que vens. Lembrando-me dos versos  de alguém, uns versos que traduzam fielmente o apelo silencioso  que, intimamente, te faço... Sim, se viesses... nem que fosse por  instantes, por breves momentos...
     Como haveria eu de acariciar-te, apertando em meus braços o
  teu corpo frágil e maravilhoso, unindo-o ao meu, cobrindo-o de
  beijos, inebriando, embriagando a ti e a mim mesmo com essa voluptuosidade ardente, com esse sensualismo forte que me
  incendeia o sangue e me excita os sentidos!
     E quando, enlanguecida, enflorasses os lábios, suplicando num sorriso, te deixasse, então eu, tomando a tua cabecinha entre
  minhas mãos, deporia em tua boca um beijo infindo e, sugando-a, absorveria em mim todo o teu ser, tua personalidade estranha,
  até saciar-me, saturar-me dela, confundindo-a com a minha...
     E então... Talvez eu não sentisse tanta falta de ti, dos teus
  olhos e do teu sorriso! ...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

     Jornal A CRITICA – Nova Iguaçu, RJ – 27/03/1938
O Pensador me disse...
   - Somos nós que muita vez nos impomos o amor pela mulher escolhida; por qualquer razão que a |Razão não averigua, julgamo-nos na obrigação de amá-la. E, assim sugestionados, chegamos a crer realmente sem esse amor a vida se nos tornará insuportável...
   Em alguns casos poderá ser, talvez, o egoísmo, o amor próprio, a vaidade, enfim, o que nos induz pensar de semelhante modo. Então, somente os elogios à pessoa amada e mesmo ao nosso bom gosto podem justificar o nosso afã de conservarmos essa obsessão, esse “pseudo-amor”, se assim o pudéssemos chamar.
   Às mulheres, quase sempre sucede isto: julgando amar ou demonstrando afeto por determinado homem, não amam senão a si mesmas, refletidas na pessoa eleita. “Vanitas”...
                                                          VIRIATO VIDAL

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho


“A SEMANA”, de Madalena, J. Laranjeira – E. do Rio  - 10/01/1938
Viriato Vidal escreveu:
     O Patriotismo do “Chicorea”
              Especialmente para A SEMANA
  
Não há muito, o “incrível” Nhô Totico, demonstrando, como sempre, as suas qualidades de agudo observador e de ironista sutil, chegou um ferro em brasa à mania muito latina de imitação inconsciente.


“Chicorea”, um dos imaginários personagens que Nhô Totico vive em seu apreciado programa radiofônico, vê-se dono, não me lembra como, de quinze contos de réis. Perguntam-lhe o que pretende fazer com esse dinheiro. E a resposta vem: criar uma escola... de “gangsters”. Uma escola de banditismo moderno. Pó que, explica, se a América do Norte é conhecida como o centro da mais alta civilização exatamente por causa dos Dillingers, o “Chicorea”, bom patriota que anseia por dar ao Brasil o renome de país culto, melhor não pode aplicar o seu dinheiro do que fundando o salvador curso de aperfeiçoamento, cujos “bacharéis” virão, sem dúvida, pela audácia de suas aventuras,


tornar-nos a pátria a terra mais civilizada do universo...


Nhô Totico soube ser psicólogo. Essas revistas e jornais infantis que circulam, com a maior liberdade, por toda a parte, que assunto, que ilustrações estampam? Heroificar o malfeitor parece a única finalidade seria da maioria de tais publicações...


Nada mais natural, pois, que as crianças – e não só estas – de hoje, haurindo no mau cinema e na leitura perniciosa o sentimento de admiração pelo criminoso valente e sagaz, desejem, com o mais inculpável entusiasmo, completar a “educação profissional” numa casa de ensino técnico do crime...


E quem sabe não seja esse o mesmo ideal de muito marmanjo com vocação de Al Capone?


Se “isso” é civilização, felicitemo-nos: já vamos bem adiantados... Quase que só nos falta a cadeira elétrica!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Jornal “A COLUNA” – Campo Belo-MG – 24/04/1937 –

Viriato Vidal escreveu:

Mercúrio e o Céu
O senso prático nos negócios é, ninguém o discute, muitíssimo louvável, tanto mais que a sua torna a vitória bastante problemática para quem se arrisca, em nossa época de concorrência franca, a quaisquer especulações financeiras. Porém, querer levar o espírito mercantil até o terreno moral chega a ser um abuso inadjectivável, uma cavação repugnante...

A virtude sem compostura, sem recato, sem a atitude que distingue um grande gênio e a inteligência vulgar, isto é, certa dose de desprezo pela opinião alheia, não pode ser verdadeiramente classificada com o rótulo, pomposo e dourado de virtude legítima, pois o que se mostra é aquilo que causa orgulho e envaidece o seu detentor, e não é de compreender-se a união da virtude com a ostentação, do mérito com a necessidade de louvores, que são como a paga do sacrifício de ser-se virtuoso e do esforço de parecer meritório ! Praticar a virtude pela virtude mesma, é dizer, ser merecedor sem o saber, é coisa que não se aprende: só há assim os que não praticam a virtude para merecer recompensa, nem mesmo a celestial, os que agem justamente por lhes ser imanente na razão o sentimento de justiça, os que são bons porque são bons e não porque o devem ser.

Fazer o bem pelo amor do bem! Onde o mérito da boa ação, se praticada para ganhar o reino dos céus? Não se pode ver nisso coisa muito diferente do egoísmo de quem dá esmolas, não porque sinta piedade pelo mísero sofredor, nem que a isso o impila o instinto de solidariedade humana, mas, pura e simplesmente, por que... “quem dá aos pobres empresta a Deus” !... É o último degrau da escalada do utilitarismo o por a juros de vida eterna a insignificância dos bens materiais...